Contos Africanos


Leia: Estatuto de Igualdade Social - Lei 10.639/03



O JABUTI DE ASAS
O conto “O jabuti de asas” pertence á literatura oral de Uganda, um país africano de belezas naturais estonteantes, repleto de montanhas, lagos, rios, florestas e terras férteis.

Os jabutis,contam os mais velhos, sempre foram respeitados por sua sabedoria e prudência. Mas, por causa da ganância de um deles, todos os parentes passaram a ter o casco rachado.
Há muito tempo, um jabuti soube que uma grande festa estava sendo organizada pelas aves que viviam voando entre os galhos das florestas.
_ Eu também quero ir – disse ele, pondo a cabecinha para fora do casco.
_ Mas a festa vai ser no céu – explicou um papagaio – Como é que você vai voar até lá?
O jabuti ficou com uma cara tão triste, que os pássaros com dó dele, resolveram ajudá-lo.
_ Olhe, nós vamos emprestar algumas de nossas penas para você.
E assim foi feito. A passarinhada, com pedacinhos de cordas, amarrou plumas coloridas nas patas dianteiras e traseiras do jabuti.
_ Pronto, agora você já pode voar – comemoraram os pássaros – Mas tem outra coisa. Nesta festa cada um tem que usar um nome diferente. Qual vai ser o seu?
O jabuti, astucioso, depois de pensar um pouco, disse:
_ Pra Todos.
Na manhã seguinte, quando o galos começaram a cantar, os convidados já estavam acordados, prontos para partir rumo à festança.
Só que a viagem levou mais tempo do que pensavam, pois o jabuti não sabia voar direito e atrasou todo mundo.
Para ele decolar foi um custo. Os céus da África nunca tinham visto um ser voador tão desajeitado como aquele jabuti de asas reluzentes.
_ Que lindo! – gritava o jabuti, deslumbrado com a visão dos cafezais e algodoais que ia desfrutando do alto.
O ar era to claro que dava para o jabuti avistar os picos das montanhas ao longe, cobertos de neve.
_ Olhe o tamanho daquele rio! – exclamava, apontando para o majestoso Nilo Branco.
Por isso, quando alcançaram o céu, a festa já tinha começado. Uma mesa enorme para o café da manhã, coberta de frutas, aguardava havia tempo pelos retardatários.
A passarada, de acordo com os velhos costumes, perguntou:
_ Pra quem a comida vai ser servida primeiro?
A dona da festa, uma águia imponente, foi quem respondeu:
_ Pra todos.
_ Então é pra mim – disse o jabuti, avançando nas guloseimas, enquanto os pássaros observavam, sem poder fazer nada.
A festa continuou animada até a hora do almoço. E, novamente, a cena se repetiu.
_ Pra quem é o almoço? – tornaram a perguntar os pássaros.
_ Pra todos – disse a anfitriã.
O jabuti, sem perder tempo, comeu tudo outra vez.
Na hora do jantar, foi a mesma coisa. O bando de aves, esfomeado, resolveu ir embora. Mas, primeiro, exigiu que o jabuti devolvesse as penas que haviam emprestado a ele.
_ Entregue tudo – disseram os passarinhos, arrancando as plumas em torno das patas do jabuti.
Antes que os pássaros voassem de volta à floresta, o jabuti fez um pedido:
_ Por favor, passem na minha casa e peçam pra minha mãe colocar um monte de capim em frente à nossa porta – implorou.
_ Para quê?
_ Para eu não me machucar quando pular do céu – disse o espertalhão.
Os pássaros, zangados, quando chegaram à terra deram o recado errado para a mãe do jabuti:
_ O seu filho pediu para a senhora colocar umas pedras bem grandes na entrada da casa.
Resultado: o jabuti se esborrachou contra os pedregulhos. Por sorte não morreu. A mãe dele é que teve um trabalho danado pra remendar os pedaços do casco todo arrebentado.
Por causa do tombo, os descendentes do jabuti, além de passarem a andar muito devagar, carregam esta couraça rachada até hoje.
(BARBOSA, Rogério Andrade. Contos Africanos para crianças brasileiras. São Paulo: Paulinas, 2004)


A LUA FEITICEIRA E A FILHA QUE NÃO SABIA PILAR
A lua tinha uma filha branca e em idade de casar. Um dia apareceu-lhe em casa um monhé pedindo a filha em casamento. A lua perguntou-lhe: — Como pode ser isso, se tu és monhé? Os monhés não comem ratos nem carne de porco e também não apreciam cerveja... Além disso, ela não sabe pilar...
O monhé respondeu:
__ Não vejo impedimento porque, embora eu seja monhé, a menina pode continuar a comer ratos e carne de porco e a beber cerveja... Quanto a não saber pilar, isso também não tem importância pois as minhas irmãs podem fazê-lo.
A lua, então, respondeu:
__ Se é como dizes, podes levar a minha filha que, quanto ao mais, é boa rapariga.
O monhé levou consigo a menina. Ao chegar a casa foi ter com a sua mãe e fez-lhe saber que a menina com quem tinha casado comia ratos, carne de porco e bebia cerveja, mas que era necessário deixá-la à-vontade naqueles hábitos. Acrescentou também que ela não sabia pilar mas que as suas irmãs teriam a paciência de suprir essa falta.
Dias depois, o monhé saiu para o mato à caça. Na sua ausência, as irmãs chamaram a rapariga (sua cunhada) para ir pilar com elas para as pedras do rio e esta desatou a chorar.
As irmãs censuraram-na:
__ Então tu pões-te a chorar por te convidarmos a pilar?... Isso não está bem! Tens de aprender porque é trabalho próprio das mulheres.
E, sem mais conversas, pegaram-lhe na mão e conduziram-na ao lugar onde
costumavam pilar.
Quando chegaram ao rio puseram-lhe o pilão na frente, entregaram-lhe um maço e ordenaram que pilasse.
A rapariga começou a pilar mas com uma mágoa tão grande que as lágrimas não
paravam de lhe escorrer pela cara. Enquanto pilava ia-se lamentando:
__ Quando estava em casa da minha mãe não costumava pilar... Ao dizer estas palavras, a rapariga, sempre a pilar e juntamente com o pilão, começou a sumir-se pelo chão abaixo, por entre as pedras que, misteriosamente, se afastavam. E foi mergulhando, mergulhando... até desaparecer.

A MENINA QUE NÃO FALAVA
Certo dia, um rapaz viu uma rapariga muito bonita e apaixonou-se por ela. Como se queria casar com ela, no outro dia, foi ter com os pais da rapariga para tratar do assunto.
__ Essa nossa filha não fala. Caso consigas fazê-la falar, podes casar com ela,
responderam os pais da rapariga.
O rapaz aproximou-se da menina e começou a fazer-lhe várias perguntas, a contar coisas engraçadas, bem como a insultá-la, mas a miúda não chegou a rir e não
pronunciou uma só palavra. O rapaz desistiu e foi-se embora.
Após este rapaz, seguiram-se outros pretendentes, alguns com muita fortuna mas, ninguém conseguiu fazê-la falar.
O último pretendente era um rapaz sujo, pobre e insignificante. Apareceu junto dos pais da rapariga dizendo que queria casar com ela, ao que os pais responderam:
__ Se já várias pessoas apresentáveis e com muito dinheiro não conseguiram fazê-la falar, tu é que vais conseguir? Nem penses nisso!
O rapaz insistiu e pediu que o deixassem tentar a sorte. Por fim, os pais acederam.
O rapaz pediu à rapariga para irem à sua machamba, para esta o ajudar a sachar. A machamba estava carregada de muito milho e amendoim e o rapaz começou a sachá-los.
Depois de muito trabalho, a menina ao ver que o rapaz estava a acabar com os seus produtos, perguntou-lhe:
__ O que estás a fazer?
O rapaz começou a rir e, por fim, disse para regressarem a casa para junto dos pais dela e acabarem de uma vez com a questão.
Quando aí chegaram, o rapaz contou o que se tinha passado na machamba. A questão foi discutida pelos anciãos da aldeia e organizou-se um grande casamento.

A GAZELA E O CARACOL
Uma gazela encontrou um caracol e disse-lhe:
__ Tu, caracol, és incapaz de correr, só te arrastas pelo chão.
O caracol respondeu:
__ Vem cá no Domingo e verás!
O caracol arranjou cem papéis e em cada folha escreveu: «Quando vier a gazela e disser "caracol", tu respondes com estas palavras: "Eu sou o caracol"». Dividiu os papéis pelos seus amigos caracóis dizendo-lhes:
__ Leiam estes papéis para que saibam o que fazer quando a gazela vier.
No Domingo a gazela chegou à povoação e encontrou o caracol. Entretanto, este pedira aos seus amigos que se escondessem em todos os caminhos por onde ela passasse, e eles assim fizeram.
Quando a gazela chegou, disse:
__ Vamos correr, tu e eu, e tu vais ficar para trás!
O caracol meteu-se num arbusto, deixando a gazela correr.
Enquanto esta corria ia chamando:
__ Caracol!
E havia sempre um caracol que respondia:
__ Eu sou o caracol.
Mas nunca era o mesmo por causa das folhas de papel que foram distribuídas.
A gazela, por fim, acabou por se deitar, esgotada, morrendo com falta de ar. O caracol venceu, devido à esperteza de ter escrito cem papéis.
Comentário do narrador : «Como tu sabes escrever e nós não, nós cansamo-nos mas tu não. Nós nada sabemos!».

O HOMEM CHAMADO NAMARASOTHA
Havia um homem que se chamava Namarasotha. Era pobre e andava sempre vestido com farrapos. Um dia foi à caça. Ao chegar ao mato, encontrou uma impala morta.
Quando se preparava para assar a carne do animal apareceu um passarinho que lhe disse:
__ Namarasotha, não se deve comer essa carne. Continua até mais adiante que o que é bom estará lá.
O homem deixou a carne e continuou a caminhar. Um pouco mais adiante encontrou uma gazela morta. Tentava, novamente, assar a carne quando surgiu um outro passarinho que lhe disse:
__ Namarasotha, não se deve comer essa carne. Vai sempre andando que encontrarás coisa melhor do que isso.
Ele obedeceu e continuou a andar até que viu uma casa junto ao caminho. Parou e uma mulher que estava junto da casa chamou-o, mas ele teve medo de se aproximar pois estava muito esfarrapado.
__ Chega aqui!, insistiu a mulher.
Namarasotha aproximou-se então.
__ Entra, disse ela.
Ele não queria entrar porque era pobre. Mas a mulher insistiu e Namarasotha entrou, finalmente.
__ Vai te lavar e veste estas roupas, disse a mulher. E ele lavou-se e vestiu as calças novas. Em seguida, a mulher declarou:
__ A partir deste momento esta casa é tua. Tu és o meu marido e passas a ser tu a mandar.
E Namarasotha ficou, deixando de ser pobre.
Um certo dia havia uma festa a que tinham de ir. Antes de partirem para a festa, a mulher disse a Namarasotha:
__ Na festa a que vamos quando dançares não deverás virar-te para trás.
Namarasotha concordou e lá foram os dois. Na festa bebeu muita cerveja de farinha de mandioca e embriagou-se. Começou a dançar ao ritmo do batuque. A certa altura a música tornou-se tão animada que ele acabou por se virar.
E no momento em que se virou, ficou como estava antes de chegar à casa da mulher: pobre e esfarrapado.

OS SEGREDOS DA NOSSA CASA
Certo dia, uma mulher estava na cozinha e, ao atiçar a fogueira, deixou cair cinza em cima do seu cão.
O cão queixou-se:
__ A senhora, por favor, não me queime!
Ela ficou muito espantada: um cão a falar! Até parecia mentira...
Assustada, resolveu bater-lhe com o pau com que mexia a comida. Mas o pau também falou:
__ O cão não me fez mal. Não quero bater-lhe!
A senhora já não sabia o que fazer e resolveu contar às vizinhas o que se tinha passado com o cão e o pau.
Mas, quando ia sair de casa a porta, com um ar zangado, avisou-a:
__ Não saias daqui e pensa no que aconteceu. Os segredos da nossa casa não devem ser espalhados pelos vizinhos.
A senhora percebeu o conselho da porta. Pensou que tudo começara porque tratara mal o seu cão. Então, pediu-lhe desculpa e repartiu o almoço com ele.

TODOS DEPENDEM DA BOCA...
Certo dia, a boca, com ar vaidoso, perguntou:
__Embora o corpo seja um só, qual é o órgão mais importante?
Os olhos responderam:
__ O órgão mais importante somos nós: observamos o que se passa e vemos as coisas.
__ Somos nós, porque ouvimos __ disseram os ouvidos.
__ Estão enganados. Nós é que somos mais importantes porque agarramos as coisas, disseram as mãos.
Mas o coração também tomou a palavra:
__ Então e eu? Eu é que sou importante: faço funcionar todo o corpo!
__ E eu trago em mim os alimentos! __ interveio a barriga.
__ Olha! Importante é aguentar todo o corpo como nós, as pernas, fazemos.
Estavam nisto quando a mulher trouxe a massa, chamando-os para comer. Então os olhos viram a massa, o coração emocionou-se, a barriga esperou ficar farta, os ouvidos escutavam, as mãos podiam tirar bocados, as pernas andaram... mas a boca recusou comer. E continuou a recusar.
Por isso, todos os outros órgãos começaram a ficar sem forças...
Então a boca voltou a perguntar:
__ Afinal qual é o órgão mais importante no corpo?
__ És tu boca, responderam todos em coro. Tu és o nosso rei!
Nota: todos nós somos importantes e, para viver, temos de aprender a colaborar uns com os outros..."Eu conto, tu contas, ele conta... Estórias africanas", org. de Aldónio Gomes,

UMA IDÉIA TONTA
Um dia a hiena recebeu convite para dois banquetes que se realizavam à mesma hora em duas povoações muito distantes uma da outra. Em qualquer dos festins era abatido um boi, carne que a hiena é especialmente gulosa.
__ Não há dúvida de que tenho de assistir aos dois banquetes, pois não quero
desconsiderar os anfitriões. Também as oportunidades de comer carne de boi não são muitas... mas como hei-de fazer, se as festas são em lugares tão distantes um do outro?
A hiena pensou, pensou... e, de repente, bateu com a mão na testa.
__ Descobri! Afinal é simples... __ disse ela, muito contente com a sua esperteza.
Saiu à pressa de casa. Assim que chegou ao local donde partiam os dois caminhos que levavam aos locais das festas, começou a andar pelo caminho que ficava do lado direito com a perna direita e pelo caminho que ficava do lado esquerdo, com a perna esquerda.
Pensava chegar deste modo a ambas as festas ao mesmo tempo. Mas começou a ficar admirada de lhe custar tanto caminhar dessa maneira. E fez tanto esforço, que se sentiu dividir em duas de alto a baixo.
Coitada, lá a levaram ao médico __ que a proibiu, desde logo, de comer carne de boi durante um mês.
É muito tonta a hiena!

A HIENA E O GALA-GALA
A Hiena estabeleceu relações de amizade com o Gala-Gala.
Um dia, a Hiena preparou cerveja e foi chamar o seu amigo lagarto:
__ Vamos beber cerveja.
Foram. O Gala-Gala embriagou-se. Perguntou à sua amiga Hiena:
__ Amiga, tu que gostas tanto de carne, se me encontrares morto no caminho, és capaz de me comer?
__ Não, isso nunca. Eu quero ser tua amiga.
O lagarto embriagou-se muito e despediu-se:
__ Amiga, vou para minha casa.
__ Está bem.
O Gala-Gala partiu. A meio do caminho, deitou-se a dormir. A Hiena pensou: "O meu amigo bebeu muito. É melhor ir ver se ele chega bem a casa". Encontrou-o no caminho, deitado. Levantou-o:
__ É sono, amigo? É embriaguez?
Segurou-o, virando-o. O lagarto calou-se, sem respirar. A Hiena agarrou nele e atirouo para o mato. Depois saiu do caminho, foi ver onde é que o Gala-Gala tinha caído e encontrou-o.
__ O meu amigo morreu.
Cortou lenha, fez fogo, e agarrou no lagarto para o assar na fogueira. O Gala-Gala,
sentindo o calor do fogo, bateu com a cauda nos olhos da Hiena e subiu, depressa, para uma árvore.
A amizade entre eles acabou ali. O Gala-Gala passou a viver nas árvores e a Hiena continuou a andar no chão, para nunca mais se encontrarem.

CORAÇÃO-SOZINHO
O Leão e a Leoa tiveram três filhos; um deu a si próprio o nome de Coração-Sozinho, o outro escolheu o de Coração-com-a-Mãe e o terceiro o de Coração-com-o-Pai.
Coração-Sozinho encontrou um porco e apanhou-o, mas não havia quem o ajudasse porque o seu nome era Coração-Sozinho.
Coração-com-a-Mãe encontrou um porco, apanhou-o e sua mãe veio logo para o ajudar a matar o animal. Comeram-no ambos.
Coração-com-o-Pai apanhou também um porco. O pai veio logo para o ajudar. Mataram o porco e comeram-no os dois.
Coração-Sozinho encontrou outro porco, apanhou-o mas não o conseguia matar.
Ninguém foi em seu auxílio. Coração-Sozinho continuou nas suas caçadas, sem ajuda de ninguém. Começou a emagrecer, a emagrecer, até que um dia morreu.
Os outros continuaram cheios de saúde por não terem um coração sozinho.
Contos Moçambicanos:

O FIM DA AMIZADE ENTRE O CORVO E O COELHO
O Corvo era muito amigo do Coelho. Combinaram, um dia, que cada um deles
transportasse o companheiro às costas, indo de povoação em povoação, para dar a conhecer às pessoas a amizade que os unia.
O Corvo começou a carregar o Coelho. Andou com ele às costas pelas aldeias e a gente, quando o via, perguntava-lhe:
__ Ó Corvo, que trazes tu aí?
__ Trago um amigo meu que acaba de chegar de Namandicha.
Passou assim com ele por muitas terras.
Chegou depois a vez de ser o Coelho a carregar com o Corvo. Ao passar por uma aldeia, os moradores perguntaram-lhe:
__ Ó Coelho, que trazes tu às costas?
__ Ora, ora, trago penas, penugem e um grande bico __ respondeu, a troçar, o Coelho.
O Corvo não gostou que o companheiro o gozasse daquela maneira, saltou logo para o chão e deixaram de ser amigos.

O CÁGADO E O LAGARTO
Num ano em que havia pouca comida, o Cágado pegou no dinheiro que tinha
economizado e foi a Nanhagaia onde comprou um saco de milho.
Quando voltava para casa, viu, a certa altura, um tronco de árvore atravessado no caminho. Como não conseguia passar por cima dele, atirou o saco de milho para o outro lado e depois foi dar a volta.
Quando estava a dar a volta, ouviu uma voz a gritar:
__ Viva, viva, tenho um saco de milho que caiu lá de cima.
Era o Lagarto, que segurava o saco que o Cágado tinha atirado.
O Cágado protestou:
__ Não. O saco é meu. Comprei-o agora e vou levá-lo para casa.
O Lagarto não quis ouvir nada e levou o saco para casa dele, dizendo:
__ Eu não o roubei a ninguém. Achei-o. Vou comer o milho porque encontrei o saco.
O Cágado ficou muito zangado mas não podia fazer nada. Cheio de fome, no dia
seguinte foi com os filhos ver se encontrava alguma coisa para comer.
A certa altura, viram o rabo do Lagarto que saía de dentro de um buraco, só com o rabo de fora.
O Cágado agarrou no rabo e numa faca e preparou-se para o cortar. Depois de cortado, levou-o para casa e comeu-o com os filhos.
O Lagarto que, entretanto tinha conseguido sair do buraco, foi queixar-se ao
responsável da aldeia:
__ O Cágado cortou-me o rabo. Mande-o chamar para ele dizer porque é que me cortou o rabo.
O responsável convocou o Cágado e perguntou-lhe:
__ É verdade que tu cortaste o rabo ao Lagarto?
O Cágado, que era muito esperto, disse:
__ É verdade que eu encontrei um rabo perto de um buraco e o levei para casa para comer, mas não era de ninguém. Eu não vi mais nada senão o rabo.
__ Mas o rabo era meu __ gritou o Lagarto __ tens de o pagar.
O Cágado respondeu:
__ Não, não pago. Eu fiz o mesmo que tu fizeste ontem. Tu ontem encontraste o meu saco de milho e comeste-o. Eu hoje encontrei o teu rabo e comi-o. Agora estamos pagos.
O responsável achou que ele tinha razão e mandou-os embora.

Contos Moçambicanos


O CARACOL E A IMPALA - Contos moçambicanos.
Uma Impala, muito vaidosa da sua agilidade e da rapidez com que corria, encontrou um Caracol e começou a fazer pouco dele:
__ Ó Caracol, tu não és capaz de correr. Que vergonha, só és capaz de te arrastar pelo chão.
O Caracol, que era esperto, resolveu enganar a Impala. Por isso desafio-a:
__ Vem cá no próximo domingo e vamos fazer uma corrida por esta estrada, desde aqui até ao rio.
__ Uma corrida comigo? __ perguntou, espantada, a Impala. — Está bem, cá estarei.
E afastou-se a rir, pensando que o Caracol era maluco por querer correr com ela.
O Caracol, entretanto, como tinha ido à escola e sabia ler e escrever, escreveu uma carta a todos os caracóis amigos dele que moravam ao longo da estrada até ao rio. Nessa carta ele dizia aos amigos para, no domingo, estarem junto à estrada e, quando passasse a Impala, se ela chamasse pelo Caracol, eles responderem: "Cá estou eu, o Caracol."
No domingo, a Impala encontrou-se com o Caracol e, a rir muito, disse-lhe:
__ Vamos lá então correr os dois e ver quem chega primeiro ao rio.
O Caracol deixou-a partir a correr e escondeu-se num arbusto. A Impala corria e, de vez em quando, gritava:
__Caracol, ó Caracol, onde é que tu estás?
E havia sempre um dos amigos do Caracol que estava ali perto e respondia:
__ Cá estou eu, o Caracol.
A Impala, que julgava ser sempre o mesmo Caracol que ia a correr com ela, corria cada vez mais, mas havia em todos os momentos um Caracol para responder quando ela chamava.
De tanto correr, a Impala acabou por se deitar muito cansada e morrer com falta de ar.
O Caracol ganhou a aposta porque foi mais esperto que a Impala e tinha ido à escola junto com os outros caracóis e todos sabiam ler e escrever. Só assim se puderam organizar para vencer a Impala.

O GATO E O RATO
O Gato e o Rato tornaram-se amigos. Um dia combinaram fazer uma viagem a uma terra distante. Pelo caminho tinham de atravessar um rio.
__ Por onde passaremos? __ perguntou o Gato. __ O rio leva muita água.
O Rato respondeu:
__ Não faz mal. Fazemos um barco.
O Gato concordou e logo ali os dois colheram uma grande raiz de mandioca e fizeram um barco com ela. Meteram o barco na água, entraram para ele e começaram a atravessar o rio.
Pelo caminho começaram a ter fome e repararam que não tinham levado comida.
O Gato perguntou então:
__ O que é que nós havemos de comer?
__ Não te preocupes, amigo Gato, porque podemos comer o nosso próprio barco.
E os dois começaram a comer o barco. O Gato pouco comeu porque a mandioca não lhe sabia bem, mas o Rato comeu, comeu, comeu até que acabou por furar o barco, que foi ao fundo.
O Gato e o Rato tiveram que nadar até à margem, mas, enquanto o Rato nadava bem e depressa, o Gato que mal sabia nadar, só com muita dificuldade e muito envergonhado é que conseguiu chegar a terra.
O Gato olhou então para o Rato e viu que ele estava com a barriga bem cheia por causa da mandioca, enquanto ele continuava cheio de fome. Por isso lembrou-se de comer o Rato.
__ Sinto muita fome, Rato. Vou ter de te comer.
__ Está bem __ disse o Rato espertalhão __ mas olha que eu estou muito sujo. É melhor ir primeiro lavar-me. Espera aí.