By Me


                        O ser crítico existe?

                               O silêncio

             Saiu em todos os jornais. Seria naquele dia, as 20:00 horas e todos deveriam comparecer. Respirei fundo. Queria era ler. Olhei para um canto do meu quarto:  Julio Verne, Shakespeare, entre muitos outros, em outro canto havia jornais, revistas.. Gostava de saber como o mundo girava.
            Sete horas depois eu levantei, tomei banho e caminhei até o local. 19:40. Dentro de 20 minutos iria entrar. Cheguei a portaria, o hall estava lotado de pessoas iguais, respirei fundo e comecei a observar,  todos estavam não somente iguais, mas com olhares iguais, roupas iguais, gestos iguais, e o que era ainda pior: todos com a mesma conversa. Ninguém com algo diferente ou que contrariava qualquer coisa. Comecei a caminhar, e me olharam com nojo, com desprezo. Para eles eu não pertencia aquele lugar. Alguns ousaram mais e meneavam a cabeça.
               Respirei em desalento. Pobres humanos. Não conheciam o quão profundo é o olhar de uma águia. 20:00 horas. Entrei. Sentei na 5ª fileira do lado direito na 8ª cadeira. 20:05. inicia-se a fala. Olhei para um lado, todas as pessoas balançavam a cabeça  concordando. Foi nesse momento que o silencio carregou-se ainda mais e então comecei a suar frio, um medo tomou conta do meu ser. Ninguém questionava aquilo, ninguém perguntava o porquê e nem se mostravam interessados por fazê-lo. Um grito penetrava por mim. Queria fazê-los acordar. Mas... Todos caíram e morreram, inclusive a maquina falante. Menos eu.
                                autor: Mirian Cardoso

                                          Fim!

         Acordei desesperada, sentindo cada gota de minha transpiração gotejar em meu rosto. Minha respiração pairava no ar, e meus ouvidos atentavam para ouvir o que acontecia ao meu redor. Meu coração, porém, era mais rápido e descompassado, tão ligeiro batia que quando dei por mim não escutava mais nada além das passadas descomunal de um orgão tão pequeno, mas capaz de ser transpassado por tanta aflição e tristeza, que matava lentamente, como um  veneno letal que faz morrer de forma sufocante.
         Naquele momento toda minha angustia voltou a minha mente, um sentimento ultra-angustiante se apoderou de mim: eu queria morrer. As pontas de meus dedos foram ficando cada vez mais frios, meus pés não sentiam a circulação. O ar que respirava era pó diante da angustia da minha alma, e todo o resto virou podridão.
         O mundo que se erguia abaixo de mim não era nada mais que um passado, fosco, apagado e, com o passar certeiro do tempo, esquecido.
         Meus lábios impuros não podiam ser curados, nem a desordem poderia ser restaurada.
                           Era o fim, eu morri.

(Obs. momento inebriantemente surreal.)  Mirian Cardoso

                            Foi na madrugada

       Foi assim que aconteceu. Ele acordou assustado, transpirando suor, com um gosto amargo na boca, sentindo o estômago enjoado e o a respiração suspensa e dolorida, parecendo que seus pulmões haviam desaparecido, tentou levantar, mas uma tontura o cercou e não conseguiu enxergar nada, tudo escureceu. Colocou a mão na cabeça sentiu um calafrio, sentou-se na beirada da cama e abaixou a cabeça, esperando que seu cérebro se estabilizasse. Alguns minutos depois afirmou o pé sobre o chão áspero e levantou. Sentiu os ossos doloridos, parecia que as suas juntas tinham enferrujado. Caminhou alguns passos e sentiu algo estranho dentro de suas entranhas. Não estava legal, parecia que havia bebido noite passada até cair, mas não se lembrava.
           Abriu a porta do banheiro e levantou a tampa da patente, e enquanto suspirava de alivio reparou que sua respiração estava estranhamente gelada e não conseguia senti-la, saia com dificuldade de suas narinas. Abriu o chuveiro e deixou a água cair livremente: podia ouvir seu sangue correndo nas veias.  Nesse momento ele coloca a mão sobre o pulso para sentir os orifícios sanguíneos, assustadoramente parecia que ele ainda estava carregado do porre da noite anterior, pois não tinha mais aquelas veias prepotentes e protuberantes que sempre teve. Não conseguia senti-la. Será que tinha diabete? Balançou a cabeça. Não. Ele fazia exercícios diários e sua alimentação era balanceada. Tinha medo dessas doenças mundanas. Não queria morrer assim, sem poder ter o direito de viver como quisesse. Tocou sua coxa, parecia estranhamente mole. Não podia ser. Fazia academia.
          Desligou o chuveiro e secou-se. Sentiu a necessidade de uma mulher tocar fundo. Sabia onde deveria ir. Vestiu-se com jeans e camiseta, perfumou-se, pegou a carteira, contou o dinheiro, e saiu ruidosamente pelas ruas de São Paulo. Sabia que não precisaria andar muito, seu charme atraia os olhares femininos com facilidade, sempre foi fácil conseguir o que queria.
           Já fora do prédio, passou a mão sensualmente pelos cabelos, e olhou ao redor, aquela seria uma ótima noite, havia muito peixe.  Começou a caminhar em direção a rua principal. Com seu ar arrogante de conquistador, quando reparou que ninguém o olhava, dirigiu-se a um bar e viu em uma mesa algumas mulheres vestidas de forma tentadora. Nada. Nenhuma delas prestou atenção a ele. Rodou alguns minutos e nada, parecia que ele não existia.
            Um desespero começou a tomar conta de seu ser. Por que se sentia tão estranho? Por que as gatas não o olhavam? O que estava acontecendo? Foi quando se olhou em uma vitrina espelhada, e seus olhos se arregalaram, sua respiração parou e seu olhar permaneceu petrificado: agora se lembrava. Foi quando caiu no chão, retorcendo-se horrivelmente. Algumas pessoas pararam, e tentaram socorrê-lo. Mas já não tinha o que fazer. No outro dia, logo pela manhã, havia a noticia do jornal: Idoso de 67 anos morre por ataque cardíaco na madrugada paulista.
Mirian Cardoso

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